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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

PACIÊNCIA

Boa noite, meus caros! Terror 5 esteve afastado por um tempo, sem notícias, sem novidades, mas com muitas crises e turbulências. Corremos o risco de encerrar por completo nossas atividades em certo momento.

Bom, cá estamos! Com a nossa volta trago um dilema: Em que momento de nossas vidas devemos tomar uma atitude e, em que momento devemos ser omissos? O homem da história abaixo resolverá essa questão...





PACIÊNCIA


Esteve sentado o tempo todo na poltrona esperando, e esperando. Já passava da meia noite e do terceiro copo de gim, que deixava dentro de seu pequeno bar embaixo da televisão. Pensava em como pôde deixar-se chegar naquele ponto, sua mente confusa procura ficar vazia falhando miseravelmente.

Não dormiu direito a viagem inteira, está cansado, o raciocínio vai mal e, para melhorar, escutou o casal chegando espalhando gemidos e gritos como “Vou acabar com você essa noite!” acompanhado de um empurrão contra a parede do corredor.

Ele se esconde e faz silêncio até entrarem no quarto.

Em seguida, fez questão de ficar ali na sala sentado acompanhado do gim e de uma luminária. Eles não ouviriam nada, pensou. Pegaria uma faca na cozinha e acabaria com tudo aquilo. Mas, para que? Ir preso, perder sua carreira? Não valeria a pena de modo algum sujar as mãos assim.

“Tenha paciência, uma hora eles vão sair do quarto e você irá pegá-los em flagrante. Tome mais um pouco de gim...” e foi o que fez.

Sentou e esperou. Sem acreditar no que acontecia... Se perguntando se ficar lá era uma boa ideia, se não deveria fingir que nada aconteceu e amanhã é outro dia? Simplesmente não era possível... Haviam acabado de se casar, o amor estava solto naquela casa. Agora, não mais para ele...

Seria uma noite silenciosa se não fosse os gemidos de sua mulher vindo lá do quarto. Pelo o que ele escuta, já tinha certeza de que não conhecia mais a sua própria esposa na cama, mal podia imaginar que ela poderia gostar de algo tão agressivo assim.

— Cala a boca, cadela! — vem o urro lá do quarto seguido do seco som de um tapa.

 Os rangidos eram tão altos e agonizantes que faziam suas mãos tremerem, o fazia pensar em se matar. As lágrimas simplesmente caem, soluça com tamanha falta de ar sentindo-se um completo bosta. Um incompetente no sexo. Um lixo no amor. Deseja fazer o pior, mas fecha os olhos e aperta o copo em posição de prece como se sua sanidade estivesse no resto de gim rezando para se acalmar.

— Espere mais um pouco, logo tudo acaba. — sussurra para si mesmo enxugando mais um copo de gim e o rosto encharcado de suor frio e desilusão.

Foi a sua primeira viagem de negócios. A primeira! Sentia-se tão feliz em ter fechado o trato mais cedo e, assim, poder ver mais cedo sua amada esposa, não havia esquecido por um momento o abraço dela na despedida e o seu beijo de boa sorte. Pensou em ligar do aeroporto avisando sua chegada, mas não. Grande erro! Comprou rosas para ela, fazer uma surpresa... Retribuir o amor. Ser o cara legal.

Quem ganhou a surpresa foi ele. O que fazer agora? Ligar o aparelho de som botar a música do casamento no último volume, ir embora e deixar que os vizinhos chamem a polícia pelo som alto? Não, eles sairiam do quarto antes que pudesse destrancar a porta da rua.

Enche mais um copo.

— O que eu fiz para merecer isso? — e dá mais um gole buscando a resposta no amargo do gim.

Pensa em ir embora, nunca mais voltar. Não consegue se sentir confortável naquela casa. Mas precisa olhar no rosto dela e entender aquilo, saber tudo e porque aquilo aconteceu. O gim já não sabe responder mais nada.

— Foda-se — liga a televisão, mas coloca no volume mais baixo possível.

O noticiário fala sobre mais um assassino que está atacando pela cidade atrás de mulheres indefesas. Uma imagem de retrato falado aparece na tela. Troca de canal, agora passa um filme de luta com o Jackie Chan, prepara mais uma dose e começa a se distrair.

— Vou ter que ter paciência, se quiser alguma coisa. — Comenta apresentando sinais de embriaguez.

Os gemidos tornam-se gritos.

— Já estão acabando. Só esperar a desgraçada se despedir do bonitão ali e já era, pego ela de supetão e até que a morte nos separe, não é mesmo? Quem dera... só vou pedir o divórcio e ir embora. — dá até uma risada da situação e um soluço.

Ri mais um pouco lembrando de sua idiotice amorosa na viagem. Havia uma mulher que estava junto com ele, almoçaram juntos um dia e ele sentiu a mão dela pousando em sua coxa. No mesmo instante, fez questão de sacar a carteira e mostrar uma foto de sua esposa e contar como se conheceram, como tudo começou. Foi mais que um balde de gelo para a colega de trabalho.

— Pra chegar em casa e ver isso... — torna mais uma dose contemplando sua vida de merda e os golpes do Jackie.

Os gemidos e os gritos pararam! Ele apaga a luz, desliga a televisão e se esconde atrás do sofá feito uma criança querendo pregar um susto e espera. Espera mais um pouco, escuta passos. Deseja ouvir a deixa, “Boa noite, obrigada pela companhia, gostoso.”, mas não veio nada além da batida da porta e o silêncio absoluto.

— Os dois saíram! — foi até a janela confirmar a suspeita.

Mas só viu o imbecil do amante no carro manobrando e indo embora, aquele rosto era familiar, mas no estado que sua cabeça estava entupida de álcool poderia falar que era qualquer um que acreditaria.

Bêbado caminha até o quarto, tenta ser silencioso, mas derruba sem querer um vaso, já não precisava mais ser sorrateiro mesmo, então “Foda-se” e gesticula para os cacos no chão. “Ela deve ta se trocando ou se preparando para o banho”, pensou.

— Na nossa cama, como ela pôde? — ou havia tentado falar isso, sua fala já está bem comprometida.

Abriu a porta do quarto com certa dificuldade, demora um pouco a achar o interruptor de luz e acende. O traído marido encontra sua esposa na cama.

— NÃO! — Gritou em desespero.

Vomitou ali mesmo no meio do próprio choro. Gritou “NÃO” várias e várias vezes. Sentindo a pior culpa que poderia sentir, vê sua esposa morta, com o pescoço roxo os olhos saltando para fora em vermelho e a boca aberta expressando o último pedido de socorro. Faltava um dedo na mão dela, o dedo anelar junto da aliança.


Com a bebedeira e o seu estado de choque, ele nunca se lembrará do retrato falado que viu na televisão. 

Quando a polícia arrombou a porta devido a reclamação de um forte cheiro, os oficiais encontraram o homem desnutrido agachado velando um corpo já inchado e podre. A luz da lanterna atingiu os olhos do noivo e prontamente ele disse “Estava aqui o tempo todo... Eu fiz isso com ela!”.

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