Boa noite,
meus caros! Terror 5 esteve afastado por um tempo, sem notícias, sem novidades,
mas com muitas crises e turbulências. Corremos o risco de encerrar por completo
nossas atividades em certo momento.
Bom, cá
estamos! Com a nossa volta trago um dilema: Em que momento de nossas vidas
devemos tomar uma atitude e, em que momento devemos ser omissos? O homem da
história abaixo resolverá essa questão...
PACIÊNCIA
Esteve
sentado o tempo todo na poltrona esperando, e esperando. Já passava da meia
noite e do terceiro copo de gim, que deixava dentro de seu pequeno bar embaixo
da televisão. Pensava em como pôde deixar-se chegar naquele ponto, sua mente
confusa procura ficar vazia falhando miseravelmente.
Não dormiu
direito a viagem inteira, está cansado, o raciocínio vai mal e, para melhorar,
escutou o casal chegando espalhando gemidos e gritos como “Vou acabar com você
essa noite!” acompanhado de um empurrão contra a parede do corredor.
Ele se
esconde e faz silêncio até entrarem no quarto.
Em seguida, fez questão de ficar ali na sala
sentado acompanhado do gim e de uma luminária. Eles não ouviriam nada, pensou. Pegaria
uma faca na cozinha e acabaria com tudo aquilo. Mas, para que? Ir preso, perder
sua carreira? Não valeria a pena de modo algum sujar as mãos assim.
“Tenha
paciência, uma hora eles vão sair do quarto e você irá pegá-los em flagrante.
Tome mais um pouco de gim...” e foi o que fez.
Sentou e
esperou. Sem acreditar no que acontecia... Se perguntando se ficar lá era uma
boa ideia, se não deveria fingir que nada aconteceu e amanhã é outro dia?
Simplesmente não era possível... Haviam acabado de se casar, o amor estava
solto naquela casa. Agora, não mais para ele...
Seria uma
noite silenciosa se não fosse os gemidos de sua mulher vindo lá do quarto. Pelo
o que ele escuta, já tinha certeza de que não conhecia mais a sua própria
esposa na cama, mal podia imaginar que ela poderia gostar de algo tão agressivo
assim.
— Cala a boca,
cadela! — vem o urro lá do quarto seguido do seco som de um tapa.
Os rangidos eram tão altos e agonizantes que
faziam suas mãos tremerem, o fazia pensar em se matar. As lágrimas simplesmente
caem, soluça com tamanha falta de ar sentindo-se um completo bosta. Um
incompetente no sexo. Um lixo no amor. Deseja fazer o pior, mas fecha os olhos e
aperta o copo em posição de prece como se sua sanidade estivesse no resto de
gim rezando para se acalmar.
— Espere mais
um pouco, logo tudo acaba. — sussurra para si mesmo enxugando mais um copo de
gim e o rosto encharcado de suor frio e desilusão.
Foi a sua
primeira viagem de negócios. A primeira! Sentia-se tão feliz em ter fechado o
trato mais cedo e, assim, poder ver mais cedo sua amada esposa, não havia
esquecido por um momento o abraço dela na despedida e o seu beijo de boa sorte.
Pensou em ligar do aeroporto avisando sua chegada, mas não. Grande erro! Comprou
rosas para ela, fazer uma surpresa... Retribuir o amor. Ser o cara legal.
Quem ganhou a
surpresa foi ele. O que fazer agora? Ligar o aparelho de som botar a música do
casamento no último volume, ir embora e deixar que os vizinhos chamem a polícia
pelo som alto? Não, eles sairiam do quarto antes que pudesse destrancar a porta
da rua.
Enche mais um
copo.
— O que eu
fiz para merecer isso? — e dá mais um gole buscando a resposta no amargo do
gim.
Pensa em ir
embora, nunca mais voltar. Não consegue se sentir confortável naquela casa. Mas
precisa olhar no rosto dela e entender aquilo, saber tudo e porque aquilo
aconteceu. O gim já não sabe responder mais nada.
— Foda-se — liga
a televisão, mas coloca no volume mais baixo possível.
O noticiário
fala sobre mais um assassino que está atacando pela cidade atrás de mulheres
indefesas. Uma imagem de retrato falado aparece na tela. Troca de canal, agora passa
um filme de luta com o Jackie Chan, prepara mais uma dose e começa a se
distrair.
— Vou ter que
ter paciência, se quiser alguma coisa. — Comenta apresentando sinais de embriaguez.
Os gemidos
tornam-se gritos.
— Já estão
acabando. Só esperar a desgraçada se despedir do bonitão ali e já era, pego ela
de supetão e até que a morte nos separe, não é mesmo? Quem dera... só vou pedir
o divórcio e ir embora. — dá até uma risada da situação e um soluço.
Ri mais um pouco lembrando de sua idiotice amorosa na viagem. Havia uma mulher que estava
junto com ele, almoçaram juntos um dia e ele sentiu a mão dela pousando em sua
coxa. No mesmo instante, fez questão de sacar a carteira e mostrar uma foto de
sua esposa e contar como se conheceram, como tudo começou. Foi mais que um
balde de gelo para a colega de trabalho.
— Pra chegar
em casa e ver isso... — torna mais uma dose contemplando sua vida de merda e os
golpes do Jackie.
Os gemidos e
os gritos pararam! Ele apaga a luz, desliga a televisão e se esconde atrás do
sofá feito uma criança querendo pregar um susto e espera. Espera mais um pouco,
escuta passos. Deseja ouvir a deixa, “Boa noite, obrigada pela companhia,
gostoso.”, mas não veio nada além da batida da porta e o silêncio absoluto.
— Os dois
saíram! — foi até a janela confirmar a suspeita.
Mas só viu o imbecil
do amante no carro manobrando e indo embora, aquele rosto era familiar, mas no
estado que sua cabeça estava entupida de álcool poderia falar que era qualquer
um que acreditaria.
Bêbado
caminha até o quarto, tenta ser silencioso, mas derruba sem querer um vaso, já
não precisava mais ser sorrateiro mesmo, então “Foda-se” e gesticula para os
cacos no chão. “Ela deve ta se trocando ou se preparando para o banho”, pensou.
— Na nossa
cama, como ela pôde? — ou havia tentado falar isso, sua fala já está bem
comprometida.
Abriu a porta
do quarto com certa dificuldade, demora um pouco a achar o interruptor de luz e
acende. O traído marido encontra sua esposa na cama.
— NÃO! —
Gritou em desespero.
Vomitou ali
mesmo no meio do próprio choro. Gritou “NÃO” várias e várias vezes. Sentindo a
pior culpa que poderia sentir, vê sua esposa morta, com o pescoço roxo os olhos
saltando para fora em vermelho e a boca aberta expressando o último pedido de
socorro. Faltava um dedo na mão dela, o dedo anelar junto da aliança.
Com a
bebedeira e o seu estado de choque, ele nunca se lembrará do retrato falado que
viu na televisão.
Quando a
polícia arrombou a porta devido a reclamação de um forte cheiro, os oficiais
encontraram o homem desnutrido agachado velando um corpo já inchado e podre. A
luz da lanterna atingiu os olhos do noivo e prontamente ele disse “Estava aqui
o tempo todo... Eu fiz isso com ela!”.